Filhos da Viúva – Segunda parte - 02/03
Sou filho de maçom
Um
dia, um conhecido me visitou e, sem rodeios, me convidou para ingressar na
Maçonaria. Agradeci a honra, mas declinei do convite. Embora admirasse a
trajetória maçônica de meu pai, sentia que ainda não estava pronto para assumir
os compromissos e responsabilidades inerentes à Ordem. A sombra de meu pai era
longa e, por mais que o respeitasse, precisava trilhar meu próprio caminho.
Para
minha surpresa, ele não desistiu e ficou fazendo visitas periódicas, sempre com
a mesma ladainha: que eu já estava pronto para ser iniciado, que possuía todas
as virtudes de um maçom, como a prudência, a justiça e a fraternidade.
Assim,
demonstrando que a prudência, às vezes, pode ser deixada de lado por outros
sentimentos, aceitei o convite. Se os arrependimentos fossem balas, eu já
estaria crivado. Talvez tenha sido a teimosia que me levou a essa decisão, a
necessidade de provar a mim mesmo que era capaz de tomar minhas próprias
escolhas.
Acreditando
em suas palavras, ingressei na Ordem. Ele me descreveu a Maçonaria como uma
grande família, onde todos se ajudavam e buscavam a perfeição. Uma sociedade
universal, com lojas espalhadas por todo o mundo, mas unidas por um mesmo
ideal. Fui seduzido pela ideia de ser parte de algo maior, de contribuir para
um mundo melhor. Afinal, quem não gostaria de ser lapidado e brilhar como uma
estrela no firmamento da humanidade?
A
ideia de uma sociedade perfeita, onde todos os membros fossem guiados por
princípios elevados e buscassem o bem comum, era tentadora. No entanto, com o
tempo, percebi que a Maçonaria, assim como qualquer outra instituição humana,
era composta por homens com suas virtudes e defeitos. A busca pela perfeição é
um ideal nobre, mas a realidade é bem mais complexa.
Abrindo os olhos
Durante
a cerimônia de iniciação, com os olhos vendados, ouvi palavras solenes sobre a
fraternidade universal da Maçonaria. Disseram-me que eu fazia parte de uma
grande família, onde todos os maçons eram irmãos. No entanto, essa ideia
idílica logo começou a se desfazer. Descobri que existiam diversas Obediências
maçônicas, cada uma com seus próprios ritos e tradições. E, para minha
surpresa, nem todos os que se diziam maçons eram reconhecidos por minha Loja. A
ironia da situação era evidente: como podíamos ser todos irmãos se havia
divisões tão profundas dentro da própria Ordem?
Como
podem ver, a prudência não é meu forte. Minha maior virtude é a confiança, a
mesma que me levou a acreditar em seus ensinamentos. Um amado maçom escreveu
que na iniciação "crianças nos tornamos", mais vulneráveis e
receptivos aos ensinamentos da Ordem. Nesse sentido, meu padrinho tinha razão:
eu já era maçom em meu coração, mesmo antes de cruzar o umbral do templo.
Cadê a prudência?
Pois
bem, como criança, decidi convidar meus amigos para conhecer a justiça e a
perfeição da Maçonaria. Assim, tornei-me padrinho de muitos novos maçons. Tão
entusiasmado fiquei que comecei a fundar lojas, tantas que já perdi a conta.
Além disso, ajudei a reconstruir várias lojas que estavam com dificuldades.
Cadê a tal prudência?
Por
fim, os anos se passaram... chegou a hora da aposentadoria, oba! E quando estou
fazendo os planos de um ancião satisfeito com as missões cumpridas, o nosso
soberano Grão-Mestre, de surpresa, me designa para levantar colunas de lojas
abatidas, me nomeando o seu delegado para a longínqua sexta região. Nada de
descanso. O quê fazer? O de sempre: obedecer e, agradecido, fazer por merecer a
confiança e honraria.
Poeta
Hiran de Melo - Mestre Instalado,
Cavaleiro Rosa Cruz e Noaquita - oráculo de Melquisedec, ao Vale do Mirante,
aos nove dias de abril do ano 2014 da Revelação da Luz.
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