Maçonaria - Entre a Tradição e o Amanhã

Por Neemias Ximenes - Mestre Secreto

É comum ouvirmos, nas colunas do templo, a frase: “Maçonaria boa era a do meu tempo.” Essa nostalgia, embora compreensível, pode se tornar um obstáculo silencioso à continuidade e ao florescimento da própria Ordem. Quando nos apegamos ao passado como se ele fosse o único tempo digno de reverência, corremos o risco de transformar a maçonaria em um museu de glórias antigas, em vez de um canteiro vivo de construção moral e social.

A maçonaria sempre foi um reflexo do seu tempo e justamente essa capacidade de dialogar com o presente que garantiu sua sobrevivência por séculos. O tempo de hoje é o melhor até que o amanhã chegue. E o amanhã, por sua vez, só será promissor se for construído com esperança, coragem e abertura para o novo.

Quando desvalorizamos o presente, desestimulam os jovens que chegam com sede de pertencimento, de propósito, de transformação. Eles não querem apenas repetir rituais; querem entender seu significado, viver sua essência e aplicá-la no mundo real. Se não os acolhermos os jovens, com entusiasmo e respeito, se não permitirmos que tragam suas ideias, suas linguagens, suas vivências e seus sonhos, estaremos condenando a maçonaria à estagnação, a maçonaria do papel e nunca a maçonaria da transformação.

Mudança não é apenas inevitável. Ela é urgente. Ela vem a galope, e não pede licença. Assim como os antigos mestres lapidavam a pedra bruta com ferramentas precisas, hoje precisamos lapidar nossas práticas, nossos discursos e nossas estruturas. A tradição não deve ser uma âncora que nos prende, mas uma raiz que nos sustenta enquanto crescemos e florescemos novos frutos. A maçonaria do futuro será aquela que souber honrar o passado sem viver nele. Que saiba acolher o presente com sabedoria e ousadia. Que veja nos jovens não apenas aprendizes, mas também construtores de um novo templo, mais inclusivo, mais vibrante, mais conectado com o mundo que pulsa lá fora.

Porque, afinal, o verdadeiro espírito maçônico não está em repetir o que foi feito, mas em continuar construindo o que ainda precisa ser feito e tornar feliz a humanidade.

Breve consideração

Por Hiran de Melo

O texto de Neemias Ximenes coloca a Maçonaria diante de um espelho — não o espelho profano da vaidade, mas o Espelho do Templo, aquele diante do qual cada Irmão é chamado a enxergar o que permanece oculto: suas próprias resistências, apegos, hábitos e zonas de conforto. Quando alguém afirma que “a Maçonaria boa era a do meu tempo”, está, simbolicamente, fixando a coluna do passado e transformando o Templo em um edifício estático, onde o tempo não flui e a Luz deixa de circular.

No plano dos símbolos, isso equivale a abdicar da marcha, deter o ponteiro, interromper o ritual da construção.

1. A nostalgia como apego à Pedra já polida

O texto mostra que a nostalgia — tão humana, tão compreensível — pode se converter em um apego à Pedra já pronta, aquela que já foi trabalhada, lavrada e encaixada na parede do Templo. Mas a obra maçônica nunca está concluída. O apego ao que foi, quando absolutizado, torna-se um véu sobre o Olho que tudo vê, impedindo-nos de perceber o presente como espaço vivo da Obra.

Na linguagem simbólica, esse apego é uma forma de deixar o Malhete cair das mãos.

2. A juventude como portadora da Luz nascente

Os jovens Irmãos, mencionados como sede de pertencimento e propósito, representam a Luz nascente do Oriente, aquela que cada manhã renova a possibilidade de edificação. Rejeitá-los ou silenciá-los significa recusar a própria energia que renova o Templo — um erro que, simbolicamente, equivaleria a ofuscar o Oriente ou apagar a chama das velas.

O texto lembra que a juventude não quer apenas repetir gestos, mas compreender seus significados. Deseja tocar o sentido da Espada Flamejante, ouvir o silêncio do Delta, entender a linguagem moral do Compasso e do Esquadro. Recebê-los com frieza seria transformar o Templo em um lugar de sombras, e não em um espaço de iniciação.

3. A mudança como movimento natural das Colunas

A mudança, apresentada como “urgente”, corresponde ao movimento natural das Colunas J e B: uma representa a firmeza, a outra a transformação. O Templo só se sustenta quando ambas funcionam de modo equilibrado.

Não há rito sem tradição — mas também não há vida ritual sem atualização. O texto convida a olhar para a tradição como raiz, não como corrente. Como na árvore da Vida, é a raiz que sustenta, mas é o galho novo que frutifica.

4. A lapidação como metáfora da própria Ordem

Quando o Mestre Neemias Ximenes evoca a necessidade de “lapidar nossas práticas”, ele desloca o símbolo central da Maçonaria — a Pedra Bruta — e o aplica à instituição. A Ordem, aqui, é compreendida como um corpo vivo, que também deve ser cinzelado, ajustado, redimensionado.

Assim, a lapidação deixa de ser apenas pedagógica (voltada ao Irmão) e se torna estrutural (voltada ao próprio Templo). É como se o traço do Grande Arquiteto, sempre invisível e sempre em ação, estivesse pedindo que os Irmãos reapertem as juntas, alinhem as vigas, revisem os fundamentos.

5. O amanhã como o verdadeiro Oriente

Por fim, o texto nos lembra que o futuro não é um inimigo da tradição, mas sua consequência lógica. A Maçonaria do futuro será aquela capaz de erguer um Templo mais inclusivo, vibrante e conectado ao mundo, mantendo o esquadro firme sobre a tradição, mas permitindo que o compasso trace novos círculos.

Simbolicamente, isso significa lembrar que o Oriente — fonte da Luz — está sempre adiante, nunca atrás. Honrar o passado, sim; viver nele, não. A verdadeira marcha maçônica é sempre para frente.

Conclusão

A leitura simbólica nos permite compreender que a mensagem central do texto não é a ruptura, mas a fidelidade profunda ao espírito da Arte Real. O futuro da Maçonaria depende de manter o Malhete ativo, o Cinzel afiado, o Compasso aberto e o Templo em constante construção. A tradição é a pedra angular — mas o amanhã é a obra ainda por erguer.

Em outras palavras: o que nos define não é a Maçonaria que já foi construída, mas a que ainda estamos chamados a construir.

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