A Lenda de Hiram – Capítulo 3
O Mistério da Morte Contida na Vida
Resumo
Este
artigo explora o simbolismo da morte e do renascimento presente nos rituais de
iniciação maçônicos, com foco na experiência do neófito ao confrontar a sua
mortalidade. Através de uma análise dos ritos e símbolos maçônicos, o texto
demonstra como a morte, nesse contexto, não representa o fim, mas sim uma
transição para um novo estado de ser. A jornada do neófito é interpretada como
uma metáfora para a transformação pessoal e espiritual, onde o indivíduo deixa para
trás o seu ego e abraça uma nova identidade. O artigo argumenta que a
experiência da iniciação maçônica proporciona um profundo sentido de propósito
e conexão com algo maior do que si mesmo.
Palavras-chave:
Iniciação, Morte, Renascimento, jornada do neófito, enraizamento e abertura.
Caminhando
Caminhando
de olhos vendados e estando nem nu e nem vestido adentra o neófito, guiado pelo
irmão sacrificador, em um túmulo. Local aonde deve deixar simbolicamente o
homem velho para propiciar o nascimento real do homem novo.
O
neófito é convidado a sentar em uma pequena cadeira, sendo em seguida retirada
a venda que lhe cobre os olhos. E assim ele contempla a sua frente uma mesa e
sobre a mesma vários objetos símbolos da morte. Inclusive os ossos de uma
cabeça. Ao lado existe um caixão com as demais partes do esqueleto.
As
paredes do túmulo estão pintadas na cor preta, todavia os anos que se passaram
já lhes dão uma nova coloração mais lúgubre. De fato, não se trata de um lugar
que se deseje ficar, nem por simples curiosidade, alguns instantes.
O
irmão sacrificador, vestido todo de preto e com cabeça coberta por um capuz,
anuncia ao neófito que irar deixá-lo entregue a sua consciência. É chegada a
hora dele se voltar para os valores do seu enraizamento e responder a respeito
dos seus deveres para com: consigo mesmo, o próximo, a família, a pátria e
Deus. Ilumina o ambiente apenas uma pequena vela.
Depois
de poucos, mas longos minutos o irmão sacrificador retorna e retira o neófito,
depois de vendar os seus olhos, e recolhe o testamento deixado sobre a mesa.
Nele deve está gravado o testemunho dos deveres que animam e enraízam o
candidato à Ordem.
Diante da Porta do Templo
Agora,
diante da porta do Templo de Salomão o candidato encontra-se preparado para
demonstrar, em três longas viagens simbólicas, se é firme o seu propósito para
ser recebido como irmão e se possui abertura ao novo.
Já
fiz parte deste cenário uma vez como neófito e muitas vezes no papel de irmão
sacrificador. Todavia, o sentimento foi o mesmo: senti-me como um peregrino em
busca da verdadeira luz, de um batismo novo. Muito semelhante ao que sinto
quando participo da cerimônia da comunhão católica cristã. Sinto a presença do
mistério da morte contida na vida.
Escuto
o eco do cântico do irmãozinho de Assis: “é morrendo que se vive para a vida
eterna”. O irmão que recebeu a morte cantando, para nos lembrar que o Filho de
Deus é nosso irmão. E que não se vai ao Pai senão pelo Filho. Portanto, para
caminhar na direção do Pai é preciso se reconhecer como filho de Deus.
A
proximidade da morte em um primeiro instante causa medo, depois quando acolhida
como irmã se constitui a porta para uma nova vida. A morte é que permite a
abertura do coração e da inteligência para o desenvolvimento do ser; permite o
caminhar do ser na direção do SER, do filho na direção do Pai. Enfim, a ascese
para um grau mais evoluído da consciência.
Enraizamento e Abertura
O
mestre Leonardo Boff nos explica de maneira didática em que consiste o enraizamento
e a abertura:
Cada
um de nós se descobre enraizado dentro de um arranjo existencial com uma pesada
carga biopsicossocial. Este é o mundo concreto, com possibilidades limitadas
pela família, pela profissão, pelo nível cultural e pelo estado de consciência
próprio de cada um. Eis o enraizamento.
Simultaneamente,
o ser humano está aberto ao mundo circundante: interage com ele, troca
informações, faz sínteses pessoais que plasmam sua história. Eis a abertura.
Os
mestres recomendam que o aprendiz deva buscar um equilíbrio entre o
enraizamento e a abertura, pois se ele se fecha no enraizamento prejudica a
abertura. E se ele se abre, esquecendo as raízes, se aliena e perde a
identidade. Para que haja este equilíbrio é necessário incorporar a morte na
existência. Pois a existência é uma cadeia de mortes e vidas novas.
Cadeia de mortes e vidas nova
O
mestre Leonardo Boff nos brinda com um pedagógico exemplo desta cadeia: Amo a
família dos meus pais, minha família (enraizamento). Todavia, chega o momento
que devo me desapegar dela (abertura). Devo morrer para a minha família. Caso
contrário, não faço o meu caminho pelo mundo e não crio a minha própria
família. Assim, depois de morrer para a minha família original, ressuscito para
uma nova relação com ela.
Exortação
Irmãos,
assim como a fênix renasce das cinzas, nós, iniciados na Ordem Maçônica, somos
chamados a deixar para trás o velho homem, com seus vícios e limitações, para
emergirmos em uma nova existência, repleta de luz e significado.
A
morte simbólica que vivenciamos nos rituais de iniciação não é o fim, mas o
início de uma jornada extraordinária. É o desprendimento das amarras do ego, a
renúncia ao orgulho e a abertura para um mundo de possibilidades infinitas. Ao
nos unirmos em fraternidade, celebramos a liberdade de expressão, a igualdade
de direitos e a fraternidade que nos une como irmãos.
Que
a chama da fraternidade ilumine nossos caminhos, nos guiando para a prática das
virtudes e a construção de um mundo mais justo e solidário. Que a liberdade nos
inspire a buscar a verdade e a justiça em todas as nossas ações. E que a
igualdade nos lembre que todos somos filhos de um mesmo Pai Celestial.
Que
cada um de nós se torne um farol de esperança, irradiando amor e compaixão para
todos aqueles que cruzarem nossos caminhos. Que a Maçonaria seja, para cada um
de nós, um instrumento de transformação pessoal e social.
Poeta
Hiran de Melo - Mestre Instalado,
Cavaleiro Rosa Cruz e Noaquita - oráculo de Melquisedec, 19 de junho de 2010 da
Revelação do Cristo.
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