Do Profano ao Sagrado – Capitulo 13

A Maçonaria e o Esoterismo


O termo esotérico vem do grego “esoterikos” (interior) e de “eisotheo” (faço entrar)- expressa aquilo que pertence ao interior e que, portanto, está oculto ao mundo exterior (exotérico). Refere-se a aquilo onde nós penetramos e que permanece oculto para os demais. Este segredo resulta incomunicável por pertencer ao plano supra-consciente; é o segredo iniciático.

 

“A adesão a um exoterismo é a condição essencial para se chegar ao esoterismo; são as duas faces da mesma moeda, como o continente (que contem algo) e o conteúdo” (René Guénon - “Initiation e Realitation  Sprituelle” - França).

 

Esta concepção dos dois aspectos (exotérico e esotérico) de uma doutrina, opostos aparentemente, mas na realidade complementares, pode generalizar-se, sendo que está fundamentada sobre a natureza das coisas, e em seus planos exterior e interior (corpo - medula, evidente - oculto, letra -  espírito,...).

 

O exoterismo é a tradição em seu aspecto exterior, quer dizer, é o conjunto de textos, rituais, prescrições, imagens, símbolos e figuras que ensinam-se publicamente a todos os fieis.

 

O exoterismo tem que ser, portanto, o reflexo exato do mistério esotérico e não separar-se de seu conteúdo, o qual se projeta ao exterior em forma de rituais, sacramento, símbolos, etc.

 

Tentar explicar o esoterismo constitui um difícil exercício, sendo que se trata de falar, de fora, do de dentro (sem nele estar), e por isso os iniciados de diferentes tradições revelam (ensinam de forma velada) suas experiências utilizando símbolos: rituais, parábolas, etc.- Na Bíblia (Mat. XIII, 10-13 ), Jesus explica a seus discípulos porque fala com parábolas dizendo: ”porque a vós dou-lhes a conhecer os mistérios do reino dos céus; mas a eles não foram-lhes dado.- Sendo certo que ao que tem, lhe será dado e estará satisfeito: mas ao que não tem, haverão de quitar-lhe, até o que tem.- Por isso falo- lhes em parábolas, porque eles vendo, não olham, nem escutam, nem entendem.-“

 

O esoterismo é o “mistério”, sendo que só pode ser conhecido, entrando nele através de uma iniciação, uma transmissão espiritual. “Nada pode nascer fora de uma envoltura, porque a Verdade não pode ser-nos descoberta, senão revelada e, finalmente, porque não existe amor sem pudor” ( L. Cattiaux:” A mensagem reencontrada”).

 

“O homem, em maior ou menor medida, e mais longe da ciência e da técnica, tende a uma síntese de suas instituições interiores, a qual tem dado em chamar: Ciência Sagrada”.

 

“Abraçando pelo alto o conhecimento humano (e sobre- humano) a dita ciência tem, para simplificar os termos, uma doutrina definida como Esoterismo, e uma técnica chamada Simbolismo. - Muitas vezes têm se repetido já que o esoterismo é velho como o mundo. - Toda vez que foi contemporâneo de Manu, Osiris, Buda, Hermes, Jesus, Mahoma. Aparece por todas as partes, em todos os tempos, no seio de todas as culturas. - Oculta-se sob as acácias no sepulcro de Hiram, inscreve-se como letras de fogo na copa da árvore da Cruz (INRI), floresce com a rosa de Christian Rosenkreutz; mostra a face do lendário Bafomet entre os Templários. Ora é  “matador do Dragão”, ora é o próprio Dragão. Seus grandes sinais repetem-se, as vezes com variantes, as vezes, pelo contrário, com idênticas significações, tanto na Ásia Menor e Extremo Oriente, como na Europa e inclusive em certos templos da América Pré- Colombina”: Hervé Massom-“ Dicionário Iniciático- Esp.”

 

Mas a palavra esoterismo, talvez pela amplitude das atividades e ciências que compreende, é objeto de grande confusão, e em muitos círculos se confunde com magia, ocultismo, parapsicologia, espiritismo, misticismo, certas religiões, etc., as quais se bem se nutrem (aparentemente) do fundo do esoterismo universal para fundamentar sua filosofia e crenças, são noções absolutamente diferentes.

 

É freqüente ver como se confunde o símbolo com aspectos do mesmo, inclusive, às vezes,com o objeto que se utiliza como símbolo. Para o esoterismo, o símbolo é uma forma de evolucionar espiritualmente, interiorizando o símbolo, a apreensão de uma realidade até então invisível e de essência atemporal.

 

No desenvolvimento de todo ensinamento espiritual sempre fica alguma coisa de inefável, sendo que a linguagem não é apta para traduzir os conceitos sem as imagens do espírito - o que constitui um “esoterismo objetivo”. O acesso ao aspecto íntimo e sagrado da Verdade, aquilo que transmite o mestre ao discípulo e que permite a compreensão da influência espiritual do símbolo e que constitui o aspecto do verdadeiro segredo( aquele que é inexpressável e inaccessível) é o esoterismo essencial ou metafísico”; ele constitui a própria iniciação e tem por objeto liberar ao homem dos limites de seu estado humano, fazer efetiva a capacidade que recebeu de alcançar estados superiores. O esoterismo não é o aspecto íntimo de uma religião (sendo  que ela não têm o monopólio do sagrado) mas se propõe compreender a “verdade interior” que expressa toda a verdade, sob a forma religiosa ou outra qualquer.

 

”O esoterismo por suas interpretações, suas revelações e suas operações interiorizantes e tendentes ao essencial, tende a realizar a objetividade pura ou direta; esta é sua razão de ser”.

 

A objetividade dá conta tanto da imanência como da transcendência; é extinção e reintegração ao mesmo tempo. E ela não é outra senão a Verdade, na que o sujeito e o objeto coincidem, e na qual o essencial prevalece sobre o acidental, ora extinguido, ora reintegrando-o, segundo os diversos aspectos ontológicos da própria relatividade. De tudo isto resulta que por objetividade é necessário entender não um conhecimento que se limita a um registro simplesmente empírico de dados recebidos do exterior, senão que a uma adequação perfeita do sujeito que conhece ao objeto conhecido.

 

“É objetiva uma inteligência o um conhecimento que é capaz de captar o objeto como ele é e não como o deforma eventualmente o sujeito” [Schuon, Fritjof,- O Esoterismo como início e como via, Esp.-1982].

 

O esoterismo por uma parte entende ao exoterismo (profundizando-o) porque a forma expressa a essência; mas, por outra parte, opõe-se a ele (trascendendo-o) porque a essência, por sua limitação, é necessariamente irredutível à forma, sendo que esta se opõe à totalidade e liberdade. O esoterismo rejeita fechar-se em formas rígidas; procura sempre penetrar além e conhecer diretamente aquilo que compõe, a essência oculta de toda natureza.

 

A divisória tripartida do universo, em corpo (mundo material), alma(mundo psíquico), e espírito (mundo espiritual), que encontramos na tradição judia (onde a alma é o resultado da união do corpo e o espírito) nos ensinamentos platônicos (nous, psyqué e somma), na tradição cristã (Verbum, Lux e Vita ), bem como em todas as tradições, constitui os três princípios que compõem ao homem.

 

São Irinéu em seus trabalhos da ressurreição dizia “Há três princípios do homem perfeito: o corpo, a alma e o espírito. Outro que é unido e formado, o corpo. - Finalmente, um intermédio que é a alma. Ela, em oportunidades, segue ao espírito e é elevada por ele. Outras vezes condescendente com o corpo e afunda-se nos desejos terrenais”.

 

Estes três princípios adquirem consciência de uma forma específica: a intuição sensível do corpo, a razão e imaginação (psíquico-mental) da alma e o intelecto puro ou intuição transcendente do espírito. - Neste sentido, a visão esotérica corresponde ao espírito, à evidência interior das causas que precedem a toda experiência e constitui o meio de aproximação à metafísica e princípios de ordem universal. O simbolismo é a ponte entre o corpo e o espírito, permitindo fazer sensível todo o conceito ininteligível; toda manifestação é um símbolo, o qual não conta qualidades sobre as coisas, senão que forma uma única coisa com a realidade.

 

Se uma escola exterior como a Franco-Maçonaria perde seu sentido interior ou iniciático, onde se transmite o mistério oculto que representa. Ou seja, o sentido real e palpável de aquilo que ensina, converte-se pouco a pouco em uma religião humanista, social e moral; os ritos e imagens se modificam, sendo que vão esquecendo a que se referem exatamente.

 

A Maçonaria, como qualquer outra escola tradicional, precisa atualizar-se continuamente, com arranjo às circunstâncias de cada tempo (seu exoterismo), para que seus iniciados possam ensinar e transmitir o mistério do conhecimento operativo, o qual, como os princípios de que dimanam (esoterismo), permanecerão inamovíveis. Esoterismo e exoterismo unem-se sem detrimento de um sobre o outro.

 

O esoterismo constitui na Franco-Maçonaria a iniciação íntima em todos os segredos, que transmuda ao Maçom em iniciado. Como René Guénon dizia:”...como não existe, em princípio, mais do que uma tradição única, da qual derivam todas as formas ortodoxas tradicionais, não pode haver mais que uma simples iniciação, em essência, embora sob diversas formas e com múltiplas modalidades”.

 

Assim, o trabalho esotérico (com seu exoterismo particular: Ritos, símbolos e organização), Gnose, Cábala, Taoismo, Pitagorismo, Franco-Maçonaria, etc. conduzem ao esoterismo Universal, e unem aos iniciados de todos os tempos na corrente universal.

 

”Como toda ciência, o esoterismo possui um vocabulário essencial e um simbolismo particular. Mas outorga uma significação precisa aos termos que toma de outras disciplinas. Estes meios de expressão datam da época em que foram fixados. Devemos, portanto, perguntar-nos a qual concepção do mundo correspondiam no espírito de seus contemporâneos e na ciência daqueles tempos antigos” - Benoist, Luc: “O esoterismo”- Esp.- Por tanto, só a perspectiva dos Princípios nos permitirá compreendê-lo todo sem suprimir nada.

 

A iniciação (que conduz ao aspirante à uma realização pessoal e elevação espiritual) deve ser transmitida por um mestre o “Pai espiritual” que lhe auxilie a nascer ao mundo do interno, e lhe exponha perante os métodos com os quais poderá desenvolver as possibilidades incluídas em sua própria natureza, sendo que mistério nenhum chega dum outro lado; o qual poderia explicar-se com a famosa sentencia indiana:

 

“O que está aqui, está mais lá e o que não está aqui, não está em lugar nenhum”.

 

Lilión SIMÕES LARBANOIS, M.·.M.·.I.·. uruguaio

 

BIBLIOGRAFIA

Este trabalho foi realizado tendo como base o artigo sobre o tema, publicado no:

 

*) “DICIONÁRIO AKAL DE FRANCO-MAÇONARIA” de Juan Carlos Daza-Espanha-1997 e os livros mencionados:

*) “ EL ESOTERISMO” : BENOIT, Luc – España- 1975

*) “ INITIATION E REALITATION SPIRITUELLE” – Francia-1990

*) “ DICCIONARIO INICIÁTICO”- España- 1975

*) “ EL ESOTERISMO COMO VÍA” –España- 1982

               

NOTA: As traduções da Língua espanhola e da Língua francesa à Língua portuguesa são de minha autoria, motivo pelo qual peço a indulgência dos leitores. - Lilión SIMÕES LARBANOIS

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