A Iniciação nos Mistérios – Capítulo 4

A Passagem pelo Vazio

 

Resumo

 

A jornada maçônica, repleta de simbolismos, conduz o iniciado a uma profunda transformação interior. A experiência da passagem pelo vazio, um dos mais enigmáticos momentos da iniciação, representa um marco nessa trajetória. Este artigo explora o significado e a relevância desse rito, comparando-o a outras tradições espirituais. A passagem pelo vazio é descrita como um estado de profunda introspecção, um esvaziamento do ego, que permite ao iniciado conectar-se com sua natureza divina. A solidão e os desafios inerentes a essa experiência são analisados, assim como a importância do acompanhamento de um mestre. A passagem pelo vazio emerge como um rito de passagem essencial para aqueles que buscam a plenitude da iniciação maçônica.

 

Palavras-chave: Maçonaria, iniciação, passagem pelo vazio, autoconhecimento, transformação interior, espiritualidade, Máximo Confessor.

 

Amados Irmãos,

 

A tradição maçônica, rica em simbolismo e ensinamentos, oferece aos iniciados um caminho para o autoconhecimento e a iluminação. Ao longo dos séculos, os maçons têm explorado os mistérios da existência, buscando respostas para as grandes questões da vida. A experiência da passagem pelo vazio, um dos mais profundos mistérios da iniciação, tem sido objeto de reflexão e estudo por gerações de maçons. Neste texto, faremos uma imersão nesse tema, buscando compreender seu significado e relevância na jornada iniciática.

 

Plenitude da iniciação maçônica

 

Espero não ofender nenhum irmão ao afirmar que poucos alcançam a plenitude da iniciação maçônica. Essa constatação não é exclusiva da nossa Ordem, mas comum em diversas tradições espirituais. A própria história do cristianismo, por exemplo, nos mostra que, entre os discípulos de Jesus, a compreensão profunda dos ensinamentos nem sempre era imediata.

 

Caminho sem retorno

 

Ao dar o passo pela passagem pelo vazio, o iniciado adentra um caminho sem retorno. A passagem pelo vazio é um marco nessa jornada, representando um momento de profunda transformação interior. Nesse período, o acompanhamento de um mestre é fundamental, pois a solidão pode se tornar um obstáculo à compreensão da experiência.

 

A passagem pelo vazio se aproxima perigosamente de um estado de profunda introspecção, que pode ser confundido com a depressão. No entanto, a natureza mística dessa experiência a diferencia da experiência psicológica. É um momento de renúncia e de entrega, no qual o iniciado se despoja de suas certezas e se abre para uma nova compreensão da realidade.

 

Esvaziamento do ego

 

Irmãos que transpuseram a experiência do vazio relatam um esvaziamento do ego, semelhante a um cálice que se esvazia para ser novamente preenchido com o saber divino.

 

Conforme Mestre Leloup nos ensina, o silêncio a ser cultivado deve ser integral, abrangendo o coração, a mente e o corpo. Nesse estado de quietude, a consciência de nossa natureza divina se manifesta. É importante ressaltar que o anúncio público da experiência mística pode trazer riscos. A história da Maçonaria registra casos de irmãos que sofreram perseguições por compartilhar suas vivências mais profundas.

 

Perseguições noutra tradição

 

Máximo Confessor, teólogo do século VII, defendia que a plenitude da vida cristã reside na união perfeita entre a natureza humana e a divindade. Para ele, Jesus Cristo é o modelo ideal dessa união, o homem divinizado. A pregação de Máximo Confessor sobre a união com o divino o levou ao martírio em 662. Torturado e mutilado, ele perseverou em sua fé até a morte.

 

Advertência

 

A trajetória de Máximo Confessor, marcada por sofrimentos e perseguições, culminou em uma transformação radical que transcende o físico. Sua história nos inspira a refletir sobre a natureza da jornada iniciática, que nos convida a superar os desafios e a buscar a perfeição moral e intelectual. Assim como Máximo, o maçom, ao enfrentar as provações da vida, pode alcançar um estado de paz interior e sabedoria. A passagem por esse passo representa essa culminação, onde a união entre o físico e o espiritual se manifesta de forma plena.

 

Paralelos com Outras Tradições

 

A experiência da "Passagem pelo Vazio" na Maçonaria apresenta notáveis paralelos com diversas tradições espirituais, especialmente o budismo, o hinduísmo e o sufismo. Ao mesmo tempo, cada tradição possui suas particularidades, moldadas por seus contextos históricos e culturais.

 

O Vazio como Estado de Consciência:

 

Tanto na Maçonaria quanto nessas outras tradições, o vazio é frequentemente associado a um estado de consciência superior, livre das ilusões do ego e da dualidade. No budismo, por exemplo, o conceito de "shunyata" (vazio) é central para a compreensão da natureza da realidade. No hinduísmo, o "nirvana" e o "brahman" também se referem a estados de consciência transcendente.

 

A Jornada Interior

 

A busca pela iluminação e a transformação pessoal são comuns a todas essas tradições. A jornada interior, marcada por desafios e provações, é vista como um caminho essencial para alcançar a realização espiritual.

 

A figura do mestre espiritual, que guia o discípulo em sua jornada, é fundamental em todas essas tradições. Na Maçonaria, o mestre maçom desempenha um papel semelhante, oferecendo orientação e suporte ao iniciado.

 

A renúncia ao ego e aos apegos materiais é um elemento comum em todas essas tradições. A "Passagem pelo Vazio" na Maçonaria pode ser vista como um ato de renúncia, similar ao desapego preconizado no budismo e no hinduísmo.


Diferenças entre as Tradições

 

Cada tradição possui sua própria cosmologia e visão sobre a natureza da realidade. Por exemplo, o budismo enfatiza a impermanência e a interconexão de todos os fenômenos, enquanto o hinduísmo concebe um universo cíclico e a existência de múltiplas deidades.

 

As práticas espirituais variam significativamente entre as diferentes tradições. A Maçonaria, por exemplo, enfatiza o trabalho ritualístico e a reflexão individual, enquanto o budismo se concentra na meditação e na prática da compaixão.

 

Contexto Histórico e Cultural

 

Cada tradição está enraizada em um contexto histórico e cultural específico, o que molda seus ensinamentos e práticas. A Maçonaria, com suas origens na Idade Média, possui uma forte influência das tradições esotéricas e da construção de catedrais.

 

Em resumo, a experiência da "Passagem pelo Vazio" na Maçonaria, embora única em seus detalhes, ecoa temas universais presentes em diversas tradições espirituais. Ao explorar essas conexões, podemos aprofundar nossa compreensão da natureza humana e da busca pela iluminação.

 

Exortação final

 

Inspirado pelos ideais de igualdade, liberdade, e fraternidade, o maçom se dedica à construção de um mundo mais justo e solidário, buscando sempre a perfeição moral e intelectual.

 

Amados Irmãos, desejo que o nosso contentamento seja contribuir para o desenvolvimento da Maçonaria.

 

Poeta Hiran de Melo - Mestre Instalado, Cavaleiro Rosa Cruz e Noaquita - oráculo de Melquisedec, ao Vale do Mirante, 05 de janeiro de 2012 da Revelação do Cristo.

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