Filhos da Viúva – Capítulo 01

Do símbolo que não é ao da paz

 

Amados irmãos, um Dia de Sol.

 

Nasci e me criei em um ambiente onde se respeitava a opinião do outro, mesmo quando ela contrariava a minha. Meu pai era maçon. Além disso, nasci em um ambiente onde se venerava o que um livro ensinava, em particular a Bíblia. Minha mãe e meu pai eram cristãos. A coexistência dessas duas influências em minha vida, o racionalismo maçônico e a fé cristã, gerou uma complexidade que me acompanha até hoje.

 

O respeito que eu tinha pela Bíblia era tão grande que eu imaginava que todas as cópias fossem idênticas, transcritas de um único original. Com o tempo, para minha surpresa, descobri que existem muitas versões bíblicas. E, mesmo as que à primeira vista parecem idênticas, como se fossem apenas maneiras diferentes de expressar as mesmas ideias, apresentam divergências. Tão diferentes que suas interpretações, muitas vezes, levam a conclusões opostas.

 

Um livro assim concebido destina-se a ser um símbolo. E, sendo símbolo, deveria unir os irmãos. No entanto, como as cópias existentes das chamadas Bíblias cristãs não proporcionam essa união aos filhos do Pai, então elas não cumprem essa função simbólica.

 

A menos que se admita que Deus não é único, não pode ser considerado o Pai de todos nós. Se Deus não for o criador de todo o Cosmos, mas apenas um entre muitos deuses criadores, talvez seja possível imaginar que uma determinada bíblia possa unir, mas apenas os membros de uma determinada igreja ou denominação.

 

Quem anuncia que "minha religião separa os seres humanos em dignos e indignos de escolherem relações pacíficas" certamente não é um construtor, nem um mensageiro da paz, mas sim um semeador de discórdia. Entendemos por paz a plenitude do ser, alcançada através do desenvolvimento pleno das virtudes inatas de cada indivíduo, da alegria proporcionada pela liberdade de amar e ser amado, e da atenção ao próximo como forma de realização pessoal.

 

Os sábios judeus, que nos legaram uma coleção de livros que serviu de base para o que, em geral, chamamos de Bíblia cristã, conscientes das limitações dos textos sagrados, desenvolveram outras coleções, destinadas aos iniciados nos mistérios, com o propósito de aprofundar a experiência mística. Pois, qualquer religião, sem o elemento misterioso, não tem nada a revelar e nem a unir.

 

Os membros ativos de qualquer organização maçônica conhecem muito bem o valor da celebração dos mistérios. Até mesmo aos recém-iniciados no grau de Aprendiz Maçom são transmitidos os elementos iniciais para a compreensão desses mistérios. E, vejam, esse conhecimento não se encontra em um livro, mas nos símbolos.

 

O Livro da Lei

 

O livro presente no Altar dos Juramentos não precisa ser um texto sagrado de uma religião específica. Pode ser, por exemplo, a Constituição do nosso país. O livro, nesse contexto, é um símbolo.

 

E qualquer livro que conste no Altar dos Juramentos deve simbolizar o quê?

 

Escutemos o orador da Loja, guardião do Templo: "O livro que se encontra no Altar dos Juramentos simboliza a Lei". A Lei que nos iguala perante si. A Lei que nos une, fortalece e fraterniza. Além disso, a Lei é temporal, humana. Não emana da Eternidade, mas é fruto da ética humana, do esforço da inteligência para construir a civilização. Esses modos de vida são históricos, evoluindo em conformidade com as necessidades presentes e futuras.

 

Exortação

 

Irmãos, a vida é um dom divino que partilhamos. Para preservá-la e garantir a harmonia entre nós, criamos as leis. Lembremos sempre que, em essência, somos todos filhos de um mesmo Criador e, portanto, irmãos. A Lei, por sua vez, deve ser um reflexo dessa fraternidade, garantindo a igualdade e a justiça para todos.

 

A Lei, como tudo neste mundo, está em constante evolução. Ela é fruto do esforço humano para garantir a convivência pacífica e o progresso da sociedade. Que sejamos, portanto, vigilantes defensores dos princípios que norteiam nossa Ordem, trabalhando incansavelmente pela construção de um mundo mais justo e fraterno.

 

Poeta Hiran de Melo - Mestre Instalado, Cavaleiro Rosa Cruz e Noaquita - oráculo de Melquisedec, ao Vale do Mirante, aos nove dias de março do ano 2014 da Revelação da Luz.

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