O Mestre Indaga ao Aprendiz – I
Quais
perspectivas da maçonaria do futuro?
A Maçonaria, como projeto filosófico e moral,
busca a construção de uma sociedade ideal, baseada em princípios de
igualdade, liberdade e fraternidade. Essa utopia, presente desde os
primórdios da Ordem, tem influenciado diversas revoluções e movimentos sociais
ao longo da história. A Revolução Francesa, por exemplo, foi marcada por ideais
maçônicos de liberdade e igualdade.
No entanto, as instituições maçônicas, como qualquer
outra organização humana, são moldadas pelo contexto histórico e social em que
estão inseridas. Ao longo dos séculos, adaptaram-se a diferentes culturas e
realidades, o que pode ter levado a interpretações divergentes de seus
princípios fundadores.
A Maçonaria do futuro enfrenta desafios como
a secularização crescente, a fragmentação das identidades e a busca por
novas formas de espiritualidade. Para se manter relevante, a Ordem precisa
repensar seus rituais, símbolos e mensagens, buscando uma conexão mais profunda
com as aspirações das novas gerações.
A Maçonaria, tradicionalmente um espaço de reflexão
e debate, enfrenta atualmente um desafio significativo: a diminuição da
participação de pensadores independentes em seus quadros. Diversos fatores,
intrínsecos e extrínsecos à Ordem, contribuem para esse cenário.
A acelerada transformação do mundo contemporâneo,
marcada pela valorização da instantaneidade e do pragmatismo, tem
impactado profundamente as instituições. A prevalência do trabalho remoto e a cultura
do imediatismo, por exemplo, reduzem o tempo disponível para atividades que
exigem um aprofundamento intelectual e uma dedicação mais contemplativa, como
os trabalhos maçônicos.
Paralelamente, a secularização crescente e a
fragmentação das identidades têm levado à perda de referenciais comuns e à
dificuldade em construir projetos coletivos. A Maçonaria, como
instituição iniciática, exige um investimento pessoal significativo e a
adesão a um conjunto de valores e princípios que podem parecer cada vez mais
distantes da realidade de muitos indivíduos.
Além disso, a própria dinâmica interna das lojas
maçônicas, marcada por rituais e hierarquias, pode desestimular a participação daqueles
que buscam uma experiência mais livre e autônoma. As valorizações excessivas de
aspectos formais em detrimento do conteúdo, bem como a resistência a novas
ideias e perspectivas, podem afastar os pensadores mais críticos.
A explosão demográfica das lojas maçônicas,
um fenômeno peculiar ao nosso tempo, merece uma análise aprofundada. A
proliferação exponencial dessas oficinas, embora ateste a vitalidade da Ordem,
levanta questões sobre a qualidade da iniciação e a coerência dos ensinamentos
transmitidos.
A facilidade de criação de novas lojas, somada à
ausência de critérios rigorosos para a filiação, tem gerado uma fragmentação da
Ordem e uma diluição dos valores fundamentais. A analogia com os cartórios de
registro civil, embora ilustrativa, subestima a complexidade dos ritos
iniciáticos e a importância do trabalho interior do maçom.
A busca por uma iniciação rápida e superficial,
muitas vezes motivada por interesses pessoais ou sociais, contrasta com o ideal
maçônico de um processo gradual e individualizado de autoconhecimento. A
celebração de mistérios, sem a devida profundidade, pode levar a um misticismo
vazio e a uma prática superficial dos ensinamentos.
A exacerbação do culto à personalidade,
manifesta na hipertrofia dos títulos atribuídos aos presidentes das lojas, mina
os fundamentos da fraternidade maçônica. Ao transformar os líderes em figuras
quase divinas, distanciamo-nos do ideal de igualdade e fraternidade que norteia
a Ordem. Essa dinâmica, além de fomentar um narcisismo individual, obscurece o
significado simbólico dos cargos e hierarquias maçônicas.
A intolerância à crítica, frequentemente
observada em nossas lojas, é outro sintoma de um mal maior. Ao silenciar vozes
discordantes e punir aqueles que ousam questionar o status quo, perpetuamos
uma cultura de conformismo e impedimos o livre debate de ideias. Essa
postura, além de contradizer os princípios de liberdade e tolerância que
professamos, impede o crescimento pessoal e coletivo.
Historicamente, as instituições maçônicas no Brasil
desempenharam um papel crucial na promoção de ideias progressistas e na defesa
de valores como liberdade, igualdade e fraternidade. Contudo, nas últimas
décadas, observamos uma gradual transição dessas instituições de arautos
do progresso para defensores de um status quo conservador. Esse
deslocamento ideológico, espelha o trajeto de muitas denominações religiosas,
que, após um período inicial de ruptura e inovação, tendem a se acomodar em
posições dogmáticas e reacionárias.
Diversos fatores podem explicar essa evolução.
A crescente complexidade da sociedade contemporânea, marcada pela polarização
ideológica e pela fragmentação das identidades, desafia as
instituições tradicionais a se posicionarem de forma clara e inequívoca.
Nesse contexto, a tentação de buscar a segurança em
dogmas e certezas pré-estabelecidas pode ser irresistível. Além disso, a
pressão exercida por grupos de interesse e a busca por legitimidade social
podem levar as instituições a adotar posturas mais conservadoras e alinhadas
com as expectativas de seus membros mais tradicionais.
Amados Irmãos, desejo que o nosso contentamento seja contribuir para o desenvolvimento da Maçonaria.
Poeta Hiran de Melo - Mestre Instalado, Cavaleiro Rosa Cruz,
Cavaleiro Noaquita - oráculo de Melquisedec, e Sublime Príncipe do Real Segredo, Grau 32 do Rito Escocês
Antigo e Aceito. Campina Grande PB, aos
5 dias de maio de 2023.

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