Maçonaria Contemporânea - Entre a Tradição e a Transformação

Um diálogo entre Hiran de Melo e Neemias Ximenes

Por Mestre Melquisedec

Neemias Ximenes: É comum ouvirmos nos templos a frase: “Maçonaria boa era a do meu tempo.” Essa nostalgia, embora compreensível, pode se tornar um obstáculo silencioso. Quando o passado é tratado como único tempo digno de reverência, corremos o risco de transformar a Ordem em um museu de glórias antigas, em vez de um canteiro vivo de construção moral e social.

Hiran de Melo: Concordo, irmão Neemias. Essa nostalgia não é apenas sentimento, mas um dispositivo disciplinador. Ela cria hierarquias tácitas entre gerações: quem pode falar, quem interpreta os rituais e quem deve apenas ouvir e repetir. É uma forma de poder que regula o presente e limita o campo de ação dos irmãos.

Neemias Ximenes: Exato. A maçonaria sempre foi reflexo de seu tempo, e é justamente essa capacidade de dialogar com o presente que garantiu sua sobrevivência. O tempo de hoje é o melhor até que o amanhã chegue. Mas o amanhã só será promissor se for construído com esperança, coragem e abertura ao novo.

Hiran de Melo: E aqui reside a operação crítica: desnaturalizar a tradição como essência eterna. Ela é uma construção histórica, sujeita a reinterpretação. Quando desvalorizamos o presente, afastamos os jovens e comprometemos a vitalidade da Ordem. Eles não são apenas aprendizes silenciosos; são sujeitos que podem produzir sentido e transformar a instituição.

Neemias Ximenes: Os jovens querem mais do que repetir rituais. Desejam compreender seu significado, viver sua essência e aplicá-la no mundo real. Se não os acolhermos com entusiasmo e respeito, se não permitirmos que tragam suas ideias e vivências, condenaremos a maçonaria à estagnação.

Hiran de Melo: A metáfora da pedra bruta nos ajuda a pensar isso. Antes, ela representava o indivíduo a ser moldado pelos mais antigos. Hoje, é a própria instituição que precisa ser lapidada, refinada e reconfigurada. A tradição não deve ser uma âncora que nos prende, mas uma raiz que nos sustenta enquanto florescemos novos frutos.

Neemias Ximenes: Mudança não é opcional. Ela é estrutural à experiência maçônica. A maçonaria do futuro será aquela que souber honrar o passado sem viver nele, acolher o presente com sabedoria e ousadia, e ver nos jovens não apenas aprendizes, mas construtores de um novo templo — mais inclusivo, vibrante e conectado com o mundo que pulsa lá fora.

Hiran de Melo: Assim, o verdadeiro espírito maçônico não está em repetir o que já foi feito, mas em continuar construindo o que ainda precisa ser feito. A tradição deixa de ser monumento intocável e se torna arquivo vivo, permanentemente reinterpretado.

Neemias Ximenes: E essa não é uma ruptura destrutiva, mas uma tomada de consciência: toda instituição que pretende transformar o mundo deve, antes, ser capaz de transformar a si mesma.

Síntese do diálogo

No encontro entre os mestres Neemias Ximenes e Hiran de Melo, emerge a consciência de que a maçonaria contemporânea vive uma tensão entre tradição e transformação. Ambos reconhecem que a nostalgia pelo passado, embora compreensível, pode se tornar um dispositivo disciplinador que limita o presente e afasta os jovens.

A tradição, longe de ser uma essência imutável, é vista como construção histórica, sujeita a reinterpretação. Assim, o verdadeiro desafio está em transformar a Ordem em um espaço vivo, capaz de acolher novas linguagens, ideias e práticas sem perder suas raízes.

Os jovens, nesse contexto, não devem ser apenas aprendizes silenciosos, mas agentes de sentido e de renovação. A metáfora da pedra bruta é ressignificada: não apenas o indivíduo precisa ser lapidado, mas a própria instituição, que deve se refinar continuamente.

O diálogo conclui que a maçonaria só florescerá se articular tradição e transformação, reinterpretando seu legado e reconhecendo o presente como campo legítimo de criação. O espírito maçônico, portanto, não está em repetir o que já foi feito, mas em continuar construindo o que ainda precisa ser realizado.

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